terça-feira, 1 de junho de 2010

A diferença de um Pasquale Cipro Neto para um Sírio Possenti.



Se você faz letras, ou reflete sobre a língua, veja como é diferente a abordagem científica de uma abordagem prescritivista. Observe também como o discurso linguista começa a se infltrar e a mudar o discurso até mesmo dos gramáticos tradicionais, por mais que essa mudança seja apenas, e mal-ajambradamente, discursiva.
A visão neo-prescritivista nos é dado por Pasquale Cipro Neto, e a linguistica por Sírio Possenti e a do leigo por Juca Kfouri. Interessante notar que a visão superficialmente progressista, liberal de Cipro Neto, é fruto de uma luta hegemônica muito antiga (remonta, no Brasil, ao período de criação da literatura nacional), a qual os progressistas da língua vinham perdendo de lavada. Hoje parece que a situação começa a se inverter, os livros didáticos, mesmo que deficientemente, já começam a tratar dos fenômenos de variação línguística, temos um ícone da gramática tradicional que já "permite" que o povo se expresse como se expressa. Dizem que a vida é feita de pequenas vitórias, esta é uma vitória pequena.

Veja a entrevista de Pasquale Cipro Neto ao programa Juca Entrevista da rede ESPN, e em seguida a entrevista de Sírio Possenti, no mesmo programa, motivada por um artigo por ele escrito que analisa a entrevista de Pasquale. Esse artigo é de leitura proveitosa e prazerosa, e está disponível no blog do autor em http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1817886-EI8425,00-Redundantemente.html

Entrevista Pasquale Cipro Neto:  parte 1, parte 2, parte 3.
Entrevista Sírio Possenti: http: parte 1, parte 2, parte 3.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

             Escrever no sentido letrado do termo, para mim, é difícil, é estressante, é como se fosse um parto, porque não é simples associar idéias abstratas (dentro da abstração que já são as próprias ideias) a um texto material. Escrever é difícil, mas sinto que por ela tenho oportunidade de explorar níveis do pensamento que de outra maneira não seria possível. A linguagem é realmente espantosa, por ela e nela, num nível cognitivo, criamos conceitos, esquemas mentais, portanto abstratos, por meio dessa mesma linguagem, transformamos esse abstrato (a idéia) em concreto (a fala) e desse concreto, podemos torna-la mais concreta ainda, (A escrita). Não se pense que se trata de uma supremacia do sistema escrito ao sistema falado, mesmo porque ao adquirirmos linguagem, o fazemos na e pela fala, a realidade linguistica que conhecemos primeiramente é a realidade oral, é ela que faz brotar, ou cria a linguagem, ou os dois, a depender da teoria adotada. Isso me faz pensar na importância da língua oral na aquisição da lingua escrita. Me faz pensar que nunca serei tão bom numa lingua estrangeira, doravante: LE, ao escrevê-la, quanto em minha línga materna, doravante: LM, também no sistema escrito. Isso me faz pensar, também, na importância que meu letramento em LM tem no meu letramento em LE. De que maneira o letramento na LM interfere no letramento em LE? De que maneira a língua escrita mexe no cérebro, de tal modo que, após letrados, nos é impossível direcionar os olhos a uma palavra, e não lê-la?.
 Em resumo, a língua escrita nos permite, pela sua própria natureza, um determinado tipo de ordenamento das idéias, podemos ler aquela sentença inúmeras vezes, podemos pensá-la e re-pensá-la, até a entendermos, podemos descrever um raciocínio, e não termos de raciociná-lo a todo instante, podemos pensar e não ter de decorar todos os pensamentos importantes, podemos tomar notas, e depois consultá-las. Mas tudo isso é uma realização da linguagem, e acredito que é impossível escrever sem ter linguagem, mas extremamente comum ter se linguagem, e não escrita. E considerando a fala (termo mais correto que “fala”   poderia ser manifestação face a face da linguagem humana, uma vez que esta pode se manifestar também pela expressão gestuo-corporal,) elemento deflagrador ou construtor da  linguagem, não posso, jamais, aceitar a idéia de uma superioridade cognitiva ou linguistica da escrita, chegaria a crer no contrário, mas fico com a posição daquele que é mais sábio do que eu, e transcrevo aqui as palavras de Marcuschi:
“Tanto a oralidade como a escrita são fundamentais, são duas maneiras de as pessoas organizarem seus discursos, praticarem suas interações no dia-a-dia, sem que uma seja mais importante do que a outra. Cada uma tem seu lugar. São práticas discursivas que não concorrem, não competem”
                                          Marcuschi, DVD: Entre a Imagem e a Palavra – Coleção Antônio Marcuschi.
Só me resta sintetizar meu raciocínio tese: a escrita é maravilhosa, porém só me é dado adquirí-la, através da linguagem, e ao que me parece só é possível adquirí-la (a linguagem) através da oralidade (realização face-a-face da linguagem humana, que pode se manifestar através das línguas de sinais, por exemplo). É então a oralidade elemento precedente fundamental da língua escrita, será então a LM, aquela a que melhor apoio dará à escrita, e o aprendizado da escrita em LM, poderá, talvez, ser "background" interessante na aquisição da escrita em LE. Gostaria de descobrir isso.
Com isso me despeço, Kainã Aguiar Ferreira

sábado, 21 de novembro de 2009

Norma Padrão X Norma Culta Brasileira: A Guerra Ideológica.



Introdução

Este trabalho procura observar os discursos que dizem a língua no país, e dessa forma tentar explicitar os projetos políticos ideológicos da guerra hegêmonica entre a norma padrão,  e a norma culta brasileira real. Veremos que essa guera tem espaço em dois fronts, mas fortemente conectados. Um teórico, no campo das ideias, e um no campo das ações efetivamente praticadas e sofridas. Uma guerra (que na verdade faz parte de uma guerra muito maior) que orienta as relações sociais num caminho de intolerância e exclusão, referendadas por uma visão de lingua elitista. Partimos do pressuposto de que as valorações dadas às diferentes variedades do português são de cunho social, extra-línguistico, ideólogico. Para embasar a presente discussão vamos trazer à tona a contribuição de Norman Fairchlough, em seu livro “Discurso e mudança social”. Sua teoria parece de grande valia para o entendimento de como os discursos ( os sentidos (em sentido amplo) veiculados pelo texto) moldam as práticas sociais (ao mesmo tempo em que se constituem também em praticas sociais) e materializam ideologias, constituindo hegemonias. Para entendermos melhor estes conceitos: ideologia, hegêmonia e discurso, faço a citação a baixo, um tanto longa, confesso, mas síntese do pensamento aqui adotado e esclarecedora de como a luta ideológica se dá em dois movimentos conflitantes, o da reprodução da ideologia dominante, e o da mudança social atráves da reformulação das relações de poder:

Entendo que as ideologias são significações/construções da realidade ( o mundo físico, as relações sociais, as identidades sociais) que são contrídas em várias dimensões das formas/sentidos das práticas discursivas e que contribuem para a produção, a reprodução, ou a transformação das relações de dominação. (Tal posição é semelhante à de Thompson (1984, 1990), de que determinados usos da linguagem e de outras ‘formas simbólicas’ são ideológicos, isto é, os que servem, em circunstâncias específicas, para estabelecer ou manter relações de dominação.) As ideologias embutidas nas práticas discursivas são muito eficazes quando se tornam naturalizadas e atingem o status de ‘senso comum’; mas essa prpriedade estável  e estabelecida das ideologias não deve ser muito enfatizada, porque minha referência a ‘transformação’ aponta a luta ideológica como dimensão da pratica discursiva, umaluta para remoldar as práticas discursivas e as ideologias nelas constrídas no contexto da reestruturação ou da transformação das relações de dominação. Quando são encontradas práticas discursivas constrastantes em um domínio particular ou instituição, há probabilidade de que parte desse contraste seja ideológica. (Fairclough, 2002, 2008 (reimpressão), p. 117)

 Tanto a reprodução quanto a mudança se dão por meio do discurso, e o discurso não existe sem estar atrelado ao(s) texto(s) ou seja o discurso materializa-se linguisticamente,é esse o fio, suponho eu, que liga toda essa discussão à linguistica. Vemos que o grau ótimo da manutenção de uma hegêmonia é quando esta alça a condição de verdade, de estado natural das coisas, o chamado senso comum.

Aqui vale lembrar um conceito interessante da palavra “verdade”: Verdade é aquilo que está de acordo com um sistema de crenças. Por exemplo, durante muito tempo foi verdade que os negros eram seres-humanos inferiores e por isso sua condição natural era a de servos (um eufemismo, diga-se de passagem) de uma raça superior, no caso a branca. Essa verdade mudou, e hoje, tal pensamento é altamente politicamente incorreto (novamente um eufemismo). Para tal mudança ocorrer foram necessários re-arranjos das forças atuantes nos jogos de poder envolvidos na questão. Mudanças de ordem econômicas, políticas e ideológicas. O fato é que tal mudança jamais poderia ter ocorrido sem uma mudança discursiva. Um novo projeto (ou pelo menos um novo arranjo) ideológico alçou o poder, redesenhando as relaçõoes e papeis sociais. A mudança discursiva, e (em grande parte) por meio desta , a mudança social é uma possibilidade e um fato. Torna-se então de suma importância que tomemos, conscientemente, um posição. Temos de decidir a que forças iremos servir. Seremos co-autores de um discurso que acredita que um ser-humano é melhor ou pior que outro por conta do modo como esta pessoa fala? Se sabemos que no Brasil, a valoração social dada às variedades da língua tem uma relação íntima com o grau de escolaridade, e que está tem uma relação íntima com a classe sócio-econômica do individuo, a quem se está atribuindo valoração social negativa? Essa última discussão nos levará a segunda parte do trabalho, o segundo front, referido no início do texto, o das ações efetivamente sofridas e praticadas, resultados de uma ideologia, ainda hegêmonica, que nítida e escancaradaramente divide seres-humanos em melhores e piores, como teremos oportunidade de observar nos dados por mim coletados.

A relação entre hegêmonia, ideologia, e discurso, na perspectiva da reprodução é mais ou menos assim: os disursos “x” sustentam a hegemonia  “y”, e a hegemonia “y” por sua vez também sustenta os discursos “x”.  Esse, no entanto, não é, como vimos, um ciclo vicioso. Consideramos que os diversos discursos e projetos ideológicos apresentam-se heterogêneos, conflitantes, tanto entre sí quanto “intra sí(aí está talvez o grande espaço de luta) e o nível de sua coesão é definido pelas relativa fixez das conjunturas discursivas/ideologicas/hegêmonicas.
  
A raiz histórica, ou: O embate teórico

Para expor o (já antigo) embate teórico que moldou a atual visão de língua, traremos à tona a contribução de Faraco, em seu livro “Norma Culta Brasileira” mais precisamente os capítulos um e dois. Veremos que  raiz histórica da norma padrão nasceu do conflito entre dois grupos distintos de pensadores da lingua. Não poderemos, no entanto, apontar o sujeito adâmico dos discursos que dizem a língua, uma vez que este não existe. O que poderemos ver é como estas vozes são antigas, e presentes até hoje, reformuladas, obviamente.

Comecemos. A questão principal do debate (teórico) tem a ver com duas concepções de língua, uma que vê a língua como um sistema homegeneo e estático, e outra como heterogeneo e mutante. O primeiro tipo de visão tem início com o declínio do período feudal. Devido às novas necessidades impostas pela centralização política e econômica nas cidades, fez-se necessária a criação de uma norma comum, “que desse relativa unidade linguistica aos  estados centrais constituidos, a conjuntura historica do feudalismo havia sido muito propícia a uma grande variação linguistica.

Em resposta à profunda diversificação do mapa linguistico de cada um dos novos Estados, emergiu um projeto padronizador. Desde Antônio de Nebrija (autor daeula que é considerada a primeira gramática de uma língua moderna – a gramática do castelhano públicada em 1492) se buscou estabelecer, por meio de instrumentos normativos (gramáticas e dicionários), um padrão de língua para os Estados Centrais Modernos, de modo a terem eles um instrumento de poliotica linguistica  capas de contribuir para a tenuar a diversidade lingusitica regional e social herdada da experiencia feudal. A esse instrumento damos hoje o nome de norma padrão.” (FARACO, 2008, p.75)

Vemos então, como a partir de uma necessidade política e social é que surge a necessidade e criação de um padrão, desde então ligado a prescrição de uma norma única. Essa norma, claro, era a utilizada pela elite letrada, não é a toa que João de Barro, ao justificar sua gramática da língua portuguesa (uma das primeirs de nossa história) afirma alí que a língua de que falava era a “ de uso e autoridade dos Barões Doutos” . Faraco, 2008, p. 77, ao citar Suzanne Romaine (1994) diz que a noção de língua padrão, e de língua proprimante dita é um construto europeu, e que está ideologia ainda hoje “contamina” o pensamento linguistico.

No Brasil, a criação de uma norma padrão, no entanto não teve a ver (principalmente) com a necessidade de uma uniformização devido à profunda diversidade linguística e/ou necessidade de unificação nacional. O grande projeto (político ideológico) da época foi a criação de uma nação europeizada. Se queriamos ser europeus, brancos, precisávamos falar e escrever como eles, e o que se desviasse desse modo de falar e escrever deveria ser combatido, uma vez que fugiria a “europeicidade” pretendida. Vemos essa ideologia materializada no discurso de João Franciso de Lisboa em 1854:

Uma razão superior o ilumina, e as suas palvras tornam-se eloquentes quando trata de demosntrar que o elemento europeu é quem constitui, principal e essencialmente, a nossa nacionalidade atual. (...) Como consequencia desta grande verdade o autor estabelece igualmente que é com o elemento europeu, cristão, e civilizador, que devem andar abraçadas as antigas glórias da pátria, e portanto a história nacional, cujas fontes não podem remontar mais longe. (FARACO, 2008, p.111)

            Mais explicíta ainda é a seguinte passagem da mesma página e obra, acima citada:

“ A discussão de João Franciso Lisboa é, nesse sentido, bastante esclarecedora. Perguntava ele aos leitores se receavam o predominío dessa origem e so por isso julgavam-se ainda avassalados à antiga metropole. Na resposta, descarta esse receio com a metafora de que o Brasil é o filho emancipado que não continua sob o patrio poder “ só porque assemelha o paina índole e nas feições, tem os mesmos hábitos, fala a mesma língua, professa a mesma religião e obedece às mesmas leis”

Ora, se somos filhos, parecidos fisicamente e no modo de ser, temos os mesmos hábitos, a mesma língua e a mesma religião que os portugueses, é como se fossemos portugueses, a única diferença seria o local onde moramos. Essa ideologia foi a responsável pela lusitanização da norma-padrão brasileira, e pelo discurso, presente até hoje, que despreza e qualifica como erro as caracteristicas do português brasileiro, e ao mesmo tempo enaltece o português europeu. Discurso exemplar dessa ideologia nas discussões sobre a língua encontramos em Joaquim Nabuco, em 1897.

A raça portuguesa, entretanto, como raça pura, tem maior resistência e guarda assimmelhor o seu idioma; para essa uniformidade de língua escrita devemos tender. Devemos opor um embaraço à deformação que é mais rápida entre nós;
devemos reconhecer que eles são os donos das fontes, que as nossas empobrecem mais depressa e qu eé preciso renová-las indo a eles.[...]” (FARACO, 2008, p.113, apud Pinto, 1978: 178-9)

É preciso lembrar que a consolidação dessa norma lusitana, não se concretizou de fato. Os brasileiros continuaram a falar de sua maneira, e alguns escritores (como veremos brevemente) continuaram a escrever de sua maneira. Reflitamos sobre as consequências desse fato. Temos uma norma, um ideal de correção lusitanizado (identificado com o romantismo, FARACO, 2008, p.110); essa norma não conseguiu se sobrepor ao vernáculo brasileiro (mesmo o culto); ao mesmo tempo, tudo o que fuja a essa norma é considerado erro, e ninguém (talvez, no máximo, uma pequena elite letrada) utilizava essa norma; logo ninguém falava e escrevia corretamente. Este pensamento nos acompanha até hoje e alimenta o discurso de que o brasileiro fala e escreve mal o seu idioma, e que somos, por isso, inferiores. Exemplo tácito da conteporaneidade de tal discurso/ideologia, encontramos no seguintes trechos de “A degradação da língua portuguesa 2004” de autoria de Arthur Virmond de Lacerda Neto disponível em seu blog pessoal: http://arthurdelacerda.spaces.live.com/blog/cns!754449FAEB345E0A!197.entry, ou em www.ocadernodokaina.blogspot.com no texto: Norma Culta X Norma Padrão: A Tentativa de um Debate.

“É fato observável diariamente que a forma falada do português no Brasil vem sofrendo um declínio crescente em sua qualidade.”


 “Nada disto se verifica em Portugal [...]”

“Lá e cá, o idioma consiste precisamente no mesmo, com  distinções suaves de vocabulário e de sintaxe, e mais agudas de pronúncia, que encarnam meras variantes do uso de uma só língua.”

“Lá e cá, o idioma consiste precisamente no mesmo, com  distinções suaves de vocabulário e de sintaxe, e mais agudas de pronúncia, que encarnam meras variantes do uso de uma só língua.
             Entre estas variações há, porém, uma diferença radical, na verdade a única: a qualidade com que se emprega o idioma aquém e além-mar. Enquanto o português médio, inclusivamente as crianças, sabe a língua e empenha-se por empregá-la corretamente, no Brasil passa-se de regra o inverso:  não correspondendo entre nós o idioma a um valor cultural, prevalecem face a ele o descaso e o desleixo, e impera a lei do menor esforço.”

“Inferiorizamo-nos face a nós próprios, porquanto  em décadas anteriores falou-se no Brasil com uma qualidade da qual decaímos; perante o estrangeiro, pois, cotejado o desempenho lingüístico do brasileiro  médio com o do  português em geral, o resultado evidentemente desfavorece-nos.”


Para analisarmos esse discurso é muito interessante trazer à baila o conceito de  intertextualidade proposto por Fairclough. Diz ele que os textos são re-arranjos dos diversos textos/discursos que o precederam havendo espaço para o novo, que é novo, mas não é adâmico. Todo texto faz parte e é uma cadeia intertextual* porque não só no texto estão presentes, muitas vezes explicitamente, outros textos e discursos, como a esse texto, existem vários outros que o respondem, o negam, o confirmam, apresentam outras informações. O texto/discurso está então “inserido na história”. Diz Fairclough:

Kristeva observa que intertextualidade implica “ a inserção da história (sociedade) em um texto, e deste texto na história” (1986a: 39). Por “a inserção da história em um texto”, ela quer dizer que o texto absorve e é construído de textos passados (textos sendo os maiores artefatos que constituem a história). Por “ inserção do texto na história ela quer dizer que o texto responde, reacentua e retrabalha textos passados, e assim fazendo, ajuda a fazer história e contríbui para processos de mudanças mais amplos, antecipando e tentando moldar textos subsequentes. (FARACO, 2008, p.134/135)

Esse conceito é importante no presente estudo pois o intertexto evidencia a historicidade dos textos, e (portanto) dos discursos. E como as possiblidades intertextuais são condicionadas pelas relações de poder (o que pode, não pode, deve ou não deve ser dito/escrito, e que posição o sujeito estará preenchendo ao dizer/escrever isso ou aquilo), o discernimento das diversas vozes ecoadas em um texto pode ser uma maneira de explicitar a configuração das forças ideológicas em ação 

Dissemos que o projeto ideológico por trás do ideal de uma norma padrão lusitanizada, não-brasileira, tinha por objetivo maior uma europeização (logo embranquecimento) da nação brasileira, isso implica, logicamente, a marginalização, minoração do elemento negro constiuinte da realidade brasileira, novamente e obviamente este aspecto político-ideológico se entremeará nas discussões da língua, no texto de Araripe Jr. no ano de 1888, lemos:

As observações do filólogo português [Adolfo Coelho] estão abaixo da crítica, não porque não exista o dialeto brasileiro, mas porque naquelas forma confundidos o falar atravessado dos africanos e outros fenomenos desta ordem com o que se deve verdadeiramente considerar elemento novo n alinguagem portuguesa.” (Faraco, 208 p.118)

Esse último discurso, no entanto, nos mostra um intertexto discursivo que remete à outra concepção ideológica sobre a lingua. Uma concepção de língua que enxergava uma diferença entre o portugues brasileiro e o europeu, e não via isso como erro. Chamarei essa matriz discursiva de “discurso, ou ideologia, do português brasileiro”. O principal porta-vozes desse movimento foi José de Alencar, que teve uma militância muito forte (e por isso  duramente críticado) em prol de um padrão de escrita que absorvesse características próprias do português culto, aqui praticado . É bom lembrar que que Alencar possuía um espirito nacionalista, o que se mostra não só em seu discurso linguistico, como em sua literatura, diz ele que “[...] seria uma aberração de todas as leis morais que a pujante civilização brasileira, com todos elementos de força e grandeza, não aperfeiçoasse o intrumento das idéias, a língua” (apud Pinto, 1978: 76).” (Faraco, 2008, p.114)

Aì vemos uma visão completamente oposta à anterior, nesta enxerga-se a diferença como positivo, como “aperfeiçoamento”, “melhora”, parecido com que diz Bonifácio: “agora que se abre nova época no vasto e nascente Império do Brasil à língua portuguesa” , “para que ousem enriquecer a língua com muitos vocábulos novos”, “apesar de franzirem o beiço os puristas acanhados, chegará o português, já belo e rico agora, a rivalizar em ardimento e concisão com a língua latina, de que traz origem” (FARACO, 2008, p. 112). Aqui já vemos uma sinalização da animosidade existente entre partidários de uma e outra ideologia. Alencar argumenta ainda que: “Nós, os escritores nacionais, se quisermos ser entendidos de nosso povo, havemos de falar-lhe em sua própria língua, com os termos ou locuções que ele entende, e que lhes traduz os usos e sentimentos” (FARACO, 2008 p.115). Aqui vemos o “uso” como critério legitimador, porém essa posição tem uma fraqueza central, conforme veremos adiante. Interessante notar que Alencar também introduz a voz científica, linguística, nos debates, ao afirmar que:

            ““A revolução é irreversível e fatal, como a que transformou o persa em grego e céltico, o etrusco em latim, e o romano em frances, italiano, etc.; há de ser longa e profunda, como a imensidade de mares que separa os dous mundos a que pertencemos” (apud pinto, 1978: 124)” (FARACO, 2008, p.115)



No entanto o “discurso do português brasileiro” possuía um ponto frágil. Faraco comenta que: “Duas realidades eram evidentes para todos: o português de cá tinha diferenças em relação ao português de lá; e aqui dentro o “nosso” português diferia do português do “vulgo” (2008, p.112)

O campo das ações efetivamente praticadas e sofridas pelos sujeitos.

O pensamento da época não era propício (e ainda hoje não é, mas está mundando) a um respeito às normas populares. O discurso do portugues brasileiro entrava numa contradição: como legitimar a diferença, sem legitimar (graças à restrições emanadas da conjuntura discursiva então estabelecida) o principal agente modificador, o povo, inculto? Por conta desse motivo, o discurso do português brasileiro não conseguiu ser coeso o suficiente, pois no último instante dava apoio ao discurso da NP, não que isso não fosse problemático. Alencar falará do uso como critério, mas existe sempre a preocupação de “não se fugir ao estudos dos clássicos”. Até hoje é necessário um grande esforço para mostrar que aceitar a mudança não quer dizer o “vale-tudo”. Pelo menos hoje podemos defender aberta e cientificamente o respeito a todas as normas e a invalidade de afirmativas que relacionem determinadas variedades à faculdades cognitivas superiores e/ou inferiores (inteligência), discurso esse, no entanto, largamento difundido no senso comum. Gerando efeitos de fato negativo nas relações e práticas sociais. Nessa discussão nos encaminhamos à última parte do trabalho, referida no ínicio do texto como o segundo front, “das ações efetivamente praticadas e sofridas” pelos sujeitos. Meu corpus foi extraído do site de relacionamentos www.orkut.com.

Justifica-se tal escolha por vários motivos: a praticidade e a falta de condições para uma coleta “tradicional” de dados; a popularidade do referido site entre os brasileiros, e o fato de o “orkut” se mostrar um espaço democrático e espontâneo de debate, onde as pessoas são livres para se expressarem como bem entendam. O site é uma rede de relacionamento no qual o particpante monta um perfil, recebe e envia recados de/a outros participantes. Pode também criar e participar de “comunidades” essas comunidades são fóruns de debate que reunem participantes com interesses em comum. Cada participante de uma comunidade pode abrir um “tópico” (um assunto particular) e o debate será levado a cabo atráves de “comentários”. São precisamente esses tópicos e comentários que estão em análise.

Comecemos. Ao ler a descrição da comunidade “ Mal sabe falar português...” (texto 1). Fica claro como a variedade linguística dos usuários é utilizada para se desqualificá-los, inclusive cognitivamente. Ao lembrarmos aqui a noção de intertextualidade, chamo a atenção para o fato de que esse texto não sería possível sem uma “história” que o sustentasse. A autora pode ter recorrido a uma construção discursiva especialmente violenta, mas não inventou, com certeza, a violência linguistica e nem os argumentos por ela utilizados. Da relação ideológica entre “capacidade de construção de conhecimento” (inteligência) e variação línguistica, surge um forte fator de coerção social, que eu irei chamar de “mordaça linguistica”. Aqui está a lógica desse processo: se a língua representa as idéias, e a sua língua é errada, logo suas idéias são também erradas. Se suas idéias são erradas, você não merece ser escutado e levado a sério.
           
Essa ideologia (hegêmonica) é letal para a formação social dos sujeitos pertencentes a comunidades de fala estigmatizadas. Pois, se vimos que o poder das ideologias se dá quando estas alçam à condição de verdade, quando  não são sentidas como imposição, e sim como estado natural das coisas, ou seja: os sujeitos internalizaram-na. O que acontece quando um sujeito internaliza, naturaliza um discurso? Já vimos essa questão, ao discutirmos Fairclough no inicio do texto, o discurso é constitutivo das relações sociais, estabelece posições de sujeito, e de identidade pessoal (novamente, essa relação não é estática, e sim mutante) se os falantes de uma variedade estigmatizada assimilam (ou melhor dizendo, são assimilados por) essa ideologia, irão se calar  ou serão calados pelos usuários de normas prestigiadas, sempre que estes assim o queiram. Dessa forma  tentamos proceder, como eu disse, a um amordaçamento de uma parcela da população. Esse amordaçamento, acredito eu, é o que Faraco se refere como “viôlencia simbólica”. Mais relações entre inteligência e variedade linguistica ficam claros nos comentários de Marcely  15/06/07 (texto 2) e Danni 24/11/07 (texto 4). Como exemplo de amordaçamento línguistico temos a seguinte contribuição de Júlio Cesar 17/11/07 (texto 3) ao tópico Verbos de Burro. “[...] meu colega disse essa semana EU OUVO...EU OUVO.... Não agüentei e ri muito dele.”
           
As valorações dadas às diferentes variedades da língua, como já referido, são de valor extra-linguistico, social. Evidências que confirmam esta teoria podem ser encontradas no discurso de Ana 31/05/05 (texto8) quando diz? “Em qual "mocó" você conheceu estes paulistas?” Esta frase faz parte de sua resposta (comentário) aos comentários feitas por Ágata 20/05/05 (texto 5), no tópico por ela criado: “Paulistas são assim msm?” onde diz:

Mas uma coisa é fato: desde q comecei a ter um contato maior com eles, percebi q eles ASSASSINAM o português!! Queria saber se vcs tbm já repararam isso ou se foi só uma coincidência, um azar q eu dei de só conhecer paulistas q falam o português todo errado... “.

Ana, ao perguntar em que “mocó” (termo, no contexto interno do texto, pejorativo para se referir à residencia) Ágata conheceu estes paulistas, faz transparecer a concepção de que os falantes dessa variedade são “pobres” (pois moram em um “mocó”), e por isso não são padrão para justificar as afirmativas de que os paulistas “assassinam” a gramática. Ana ainda contra ataca, na mesma moeda, dizendo que:

“[...] estes outro erros que citou, não são prerrogativas dos paulistas apenas. Tenho parentes no Rio (aliás, você é carioca, pois não?)que estiveram no último fim de semana em minha casa e, um deles soltou um: "mais carinho e menas conversa!" para a esposa. Como doeu no meu ouvido aquela frase mas, por uma questão de educação, calei-me.” (texto 8)

Dessa discussão sobre quem fala mais errado, se paulistas ou cariocas surge a conclusão óbvia (dentro da ideologia da norma única) de que é o brasileiro, como um todo, que fala mal, como vemos nos comentários (ainda do tópico: Paulistas são assim msm?) de Cecília 20/05/05 (texto 6):

 Agora, o "para mim fazer" e o "fazem 3 anos" são de fato meio generalizados, mas acho que esse não é um privilégio dos paulistas :) Já vi vários tópicos em comunidades sobre esse tal "para mim fazer", com comentários de gente do país inteiro.”

Eder 23/05/05:

 Já reparei que os paulistas falam assim...bom não só os paulistas...acho que todo mundo mesmo...mas tem umas clássicas que até em programas de tv eu ouço...."pra mim fazer"(texto 7)

Ana, 31/05/05

“Como pode ver, BRASILEIROS que falam errado, tem até na presidência da república!”
(texto 8)

Anônimo 01/06/05

Dizer que os "paulistas" falam errado em um país onde, infelizmente, boa parte da população é formada por analfabetos funcionais é, no mínimo, ignorância, para não dizer preconceito (e não adianta disfarçar com os clássicos chavões citados pela gatha).

Não Agatha, os paulistas não são assim. Infelizmente, os BRASILEIROS são assim, alguns falam e escrevem o português corretamente, a maioria, não.”
(texto 10)
O discurso de Anônimo traz a questão da falta de uma cultura de letramento no país,  nesse caso a relacão de erro se dá com as variedades estigmatizadas (uma vez que a norma de prestígio se encontra no ponto mais letrado do continum oralidade-letramento). Porém, como bem o diz Faraco, p.112, a noção de erro, no Brasil, não está associada apenas às variedades de menor prestígio, pois como vimos, mesmo a norma culta real do português brasileiro, aquela efetivamente utilizada pelos falantes ditos cultos é vista como erro. O que em nossos dados surgiu na fala de:
 Antonio Azevedo 26/06/05
“[...] eu sou carioca, e aqui no Rio encontro TODOS estes atentados à gramática que vocês comentaram. E, infelizmente, não só em mocós, e até entre gente supostamente instruída... É uma pena.”
(texto 9)
Faltou à análise dos textos do orkut, uma atenção aos processos de mudança ocorridos, como as vozes, ainda tímidas, daqueles que têm uma visão mais tolerante no campo da língua nacional. No texto “ a degradação da língua” supra-citado, faltou demonstrar como no discurso purista existe a percepção do crescimento do discurso dos linguistas na formação de professores de língua portuguesa. Caminho este muito eficaz para a mudança social pelo discurso, uma vez que professores e escolas são uma forte matriz discursiva. Veja:

“Na raiz desta doutrina e da sua ampla obra de inversão axiológica e de aniquilamento da língua portuguesa, encontra-se a ideologia marxista, por inerência voltada ao popular e antipática às formas superiores da cultura, que reputa  expressões dos valores da burguesia e da sua dominação social. “Durante cinqüenta anos a intelectualidade progressista martelou nos nossos ouvidos as seguintes máximas: (a) toda norma lingüística oficial é odioso instrumento de dominação política e de exclusão social; (b) os gramáticos e dicionaristas devem, portanto, limitar-se a registrar os usos lingüísticos da maioria, dizendo amén a todas as mudanças sensatas ou insensatas.
            Hoje essa doutrina é ensinada em todas as escolas brasileiras, e quem quer que ouse contrariá-la se vê esmagado sob o peso de dois argumentos cientificamente irrefutáveis: (a) você é um reacionário; (b) cale a boca”.(CARVALHO, Olavo de, O imbecil coletivo II, Topbooks, 1998).”

Interessante também teria sido mostrar práticas discursivas de resistencia como a de
Sidrakson 31/10/09:

“Língua ridícula que nem vocês que se dizem o mestre do português sabem falar.Ficam todo o tempo será que falei certo? Será que escrevi certo? Será que tem que se escreve com s, ç, z porque porquê por que por quê pode ate o sentido.
A língua foi inventa para passa um pensamento, mas o português e para saber se ele escreveu ou falou certo só vocês que não enxergam isso.
A única coisa que lamento ser obriga do a falar essa língua ridícula.
Because of that I love the English language”
(texto 11)
Temos aqui, claramente, uma atitude de rebeldia e repúdio, mas não à língua portuguesa, como talvez pareça. O que Sidrakson está se opondo, na verdade é a uma concepção de língua, que leva os brasileiros a uma paranóia linguistica: “Ficam todo o tempo será que falei certo? Será que escrevi certo? Será que tem que se escreve com s, ç, z porque porquê por que por quê”  e à desqualificação pessoal “A língua foi inventa para passa um pensamento, mas o português e para saber se ele escreveu ou falou certo só vocês que não enxergam isso.”  Essa situação cria um filtro afetivo, um bloqueio ao aprendizado formal da língua: “A única coisa que lamento ser obriga do a falar essa língua ridícula” . Aversão esta generalizada nas escolas, públicas e particulares, do brasil


Conclusão:

O corpus desta pequena pesquisa permite uma análise mais profunda, e de melhor qualidade, o que o pouco tempo e a ignorância não me permitiram. Cabe porém deixar ao leitor(a) a análise pessoal dos dados apresentados em sua completude, e assim decidir pela validade ou não de minhas interpretações. Não pretenderei aqui me situar fora das ideologias, mas também, procurei não ser joguete passivo destas. Procurei situar minhas afirmações entre grandes nomes da linguistica, e por à prova seus conceitos no mundo real das produções e recepções de textos/discursos/ideologias. Cheguei à conclusão de que a  norma padrão não é apenas uma norma, mas sim fruto de um projeto ideológico de sucesso é verdade, mas tão verdade quanto isso é o fato de que as relações de poder, são instáveis e suscetiveis de mudança, e defendo que isto pode estar acontecendo, não a mudança discursiva em sí, mas as condições para essa tranformação. As incoerências internas da gramática tradicional, o fracasso de seu ensino; uma certa popularização de novos discursos entre o senso comum frente ao acerto e erro na língua; políticas nacionais de ensino muito claros em relação a necessidade de um ensino da língua que leve em consideração a questão da variação linguistica. Todos estas condições por sua vez só puderam se estabelecer por conta da luta de “partidos” ideólogicos conflitantes, resultando dessa luta, uma permanente re-estruturação das relações de poder, refletida, nos textos, em novas possibilidades de discurso, e de práticas sociais. Com isso me despeço, Kainã Aguiar Ferreira.

  
Anexo: Comentários do orkut na íntegra

Comunidade: Mal sabe falar Português...

(TEXTO 1) Descrição da Comunidade:

Mal sabe falar Português...
descrição: E quer aprender a falar outro idioma!

São dignas de pena aquelas pessoas limitadas que falam errado,escrevem errado,cometem gravíssimos erros de português e ainda tem o disparate de dizer que querem aprender a falar outros idiomas!

Acorda pra realidade ô cambada de burros!!!É mais fácil vocês aprenderem a relinxar do que aprender a falar qualquer idioma que existe no mundo!

Pobre coitados que nem sabem falar o idioma do seu próprio país de origem...Já está na hora de tomar um chá de realidade!

BANDO DE ANALFABETOS!

Se fazem vergonha quando abrem a boca pra pronunciar um monte de palavras erradas,muitas vezes palavras que nem existem na língua portuguesa!Imagina esses lezados tentando falar outros idiomas!
Bando de antas!Querem um conselho bem sincero?Primeiro aprenda a falar o essencial,ou seja, o português correto! Que é obrigação de todo brasileiro, depois disso, aí sim poderão tentar a sorte de falar outros idiomas!
Por favor, não nos façam rir mais da cara de vcs!
(Formatação original)


Comunidade: Eu falo português corretamente (a)   Participantes: 7.572                         
Tópico: verbo de burro   Autor: Marcely  Data 15/06/07

(Texto 2)
Verbo de burro
nóis vai
nóis vem
nóis fumo
nóis vamo
nóis num qe
nóis num vai

Sabe mais alguns?

Posta ai

Bjus

Marcely, 15/06/07

.
(Texto 3)
PARA MIM fazer....é ridiculão...
cara eu não suporto....não suporto meRRRRRRRRmo....
aaaaaaaaaaaaaaaaaa
meu colega disse essa semana
EU OUVO...EU OUVO....
Não agüentei e ri muito dele

Júlio Cesar 17/11/07

(Texto 4)
Danni 24/11/07
pra mim cumÊ...êta coisas de gente burra!...
é pra eu comer, pra EU comer...!

Danni 24/11/07
f.]


Comunidade: Eu falo português corretamente                            
Tópico: Paulistas são assim msm?Autor Ágatha Data: 20/05/05

TEXTO 5)
Paulistas são assim msm?
Gente, primeiramente quero deixar claro q não tenho nada contra paulistas. Pelo contrário: gosto mto deles, tenho amigos paulistas e tenho certeza q há paulistas nessa comunidade... Mas uma coisa é fato: desde q comecei a ter um contato maior com eles, percebi q eles ASSASSINAM o português!! Queria saber se vcs tbm já repararam isso ou se foi só uma coincidência, um azar q eu dei de só conhecer paulistas q falam o português todo errado...
Algumas pérolas paulistas q os meus ouvidos costumam ter q aturar:
"pra mim fazer"
"fazem 3 anos"
Discordância entre o nome e o adjetivo ou pronome q se refere a ele. Ex.: "Esses livros são meu", "Meus objetos pessoal...".
"menas"
"Não sou eu quem vou fazer"
Ah, claro, eles aboliram o presente do subjuntivo da língua portuguesa. Ex.: "Quer q eu faço isso pra vc?"
"Eu se preparei...".
E tantos outros q agora não me vêm à cabeça...

Ágatha 20/05/05
           

(TEXTO 6)
Bom, eu sou paulista e não falo assim. Meus amigos e conhecidos também nãofalam. O pessoal menos instruído provavelmente (ou certamente) fala. Agora, o "para mim fazer" e o "fazem 3 anos" são de fato meio generalizados, mas acho que esse não é um privilégio dos paulistas :) Já vi vários tópicos em comunidades sobre esse tal "para mim fazer", com comentários de gente do país inteiro.
Cecília 20/05/05

(texto 7)
mmm...
Já reparei que os paulistas falam assim...bom não só os paulistas...acho que todo mundo mesmo...mas tem umas clássicas que até em programas de tv eu ouço...."pra mim fazer" realmente é uma pontada na alma..."mim ajude, por favor"....parece que retrodedemos à linguagem aborígene..."Mim tarzan, você jane"...outra dos paulistas é..."hoje eu tou MEIA cansada"...a meia (a do pé)deve está cansadinha mesmo, de tanto que anda, coitada! rsrs
Eder 23/05/05
f.

(TEXTO 8)
Ágatha
Em qual "mocó" você conheceu estes paulistas? Sou paulistana e nunca falei desta forma. Acho que o maior defeito do sotaque paulista é gostar muito da vogal "i", como em "teimpo", "veinto", "realmeinte" mas, estes outro erros que citou, não são prerrogativas dos paulistas apenas. Tenho parentes no Rio (aliás, você é carioca, pois não?)que estiveram no último fim de semana em minha casa e, um deles soltou um: "mais carinho e menas conversa!" para a esposa. Como doeu no meu ouvido aquela frase mas, por uma questão de educação, calei-me. Como pode ver, BRASILEIROS que falam errado, tem até na presidência da república!

Ana 31/05/05

 


(TEXTO 9)

O tópico está tão quente que vou dar pitaco aqui..

Se até o Gabriel está presente, porque não eu?

A propósito: volta e meia vejo (ou melhor, leio) alguém falando "testimonial" no Orkut. Agora até a Ana...

Mas, pelo que entendo, o correto é "testemunhal", correto? Ou, então, o que seria melhor, sem anglicismos ocultos, "depoimento".

Agora que já enchi o saco, volto ao assunto: eu sou carioca, e aqui no Rio encontro TODOS estes atentados à gramática que vocês comentaram. E, infelizmente, não só em mocós, e até entre gente supostamente instruída... É uma pena.

Concordo que precisamos mesmo fazer um esforço para salvar a língua - tanto a falada quanto a escrita. E isso para mim passa por uma coisa - um movimento de divulgação que diga que é certo, que não é sinal de má-educação, corrigir a quem fala errado, no ato, no "contra-pé"...

Eu corrijo os outros. Muitos agradecem, mas outros se sentem desvalorizados, e começam a se justificar. E peço sempre que me corrijam. Eu não acho que me expresso bem assim, mas me esforço.

Só mesmo se as correções forem imediatas é que conseguiremos obter mudanças no jeito de falar das pessoas.

Antonio Azevedo 26/06/05

 

(TEXTO 10)

Ai, como dor-de-cotovelo dói...
Toda vez que escuto (ou leio, no caso), alguém começar uma frase com "não tenho nada contra os paulistas, mas...", "tenho amigos paulistas, mas...", e etc., etc., etc., e aí falar as maiores barbaridades contra os paulistas, entendo como dor-de-cotovelo dói. Dizer que os "paulistas" falam errado em um país onde, infelizmente, boa parte da população é formada por analfabetos funcionais é, no mínimo, ignorância, para não dizer preconceito (e não adianta disfarçar com os clássicos chavões citados pela Ágatha).

Não Agatha, os paulistas não são assim. Infelizmente, os BRASILEIROS são assim, alguns falam e escrevem o português corretamente, a maioria, não.
01/06/05 Anônimo


Comunidade: Salvem a língua portuguesa                            
Tópico: Morte a língua portuguesa Autor Sidrakson Data: 31/10/09

(TEXTO 11)
Língua ridícula que nem vocês que se dizem o mestre do português sabem falar.
Ficam todo o tempo será que falei certo? Será que escrevi certo? Será que tem que se escreve com s, ç, z porque porquê por que por quê pode ate o sentido.
A língua foi inventa para passa um pensamento, mas o português e para saber se ele escreveu ou falou certo só vocês que não enxergam isso.
A única coisa que lamento ser obriga do a falar essa língua ridícula.
Because of that I love the English language


Comunidade: Odeio Assassinos da Gramática   Participantes: 7.991                         

Tópico: Quais são os piores erros gramaticais?  Autor: Daniel  Data: 03/01/07




(TEXTO 12)
Eua acho que o pior de todos é:
"Eu estou sastifeito"!
Pra quem fala isso ou escreve, a morte é pouco!!!
Isac  25/06/07

(TEXTO 13)
Pra mim fazer...
Linguagem indígena...
Quase morro quando ouço coisas
do tipo...
Míriα & 28/05/07

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O “(O) Professor Avaliador: Sobre a Importância da Avaliação na Formação do Professor de Língua Estrangeira” traz informação de que nos últimos tempos vem se verificando um grande número de trabalhos que identificam o professor como peça central na questão do ensino-aprendizagem. Tal afirmação, que parece óbvia à primeira vista, tem sua razão de ser. Sabe-se que quando o pensamento que vigia a educação era o estruturalismo behaviorista, o professor possuía um papel marginal na sala de aula, uma vez que deveria transmitir conceitos/estímulos e esperar respostas predeterminadas, e quando estas não fossem alcançadas (a resposta (única) certa) taxá-las como erro. Essa teoria/abordagem/método é responsável em grande medida pela cultura do erro, que assim chega às raias do absurdo ao considerar erradas, respostas que estejam certas do ponto de vista gramatical e do uso, pelo simples fato destas não corresponderem à estrutura tal e qual esperada como resposta. Esse tipo de pensamento e prática ainda é muito comum. Não raro observa-se que grandes cursos de inglês, por exemplo, treinam o professor em concepções extremamente ortodoxas, e chegam a redigir um manual do professor ditando inclusive o que e quando o professor irá dizer isto ou aquilo. Realmente o tema de seu trabalho “A importância da Avaliação[...] é importante.
O termo avaliação, como o texto sugere, mas não diz, deve ser tomado em sentido amplo. Várias são as implicações por trás deste termo. Podemos ter a avaliação do professor em relação a si mesmo, suas crenças educacionais, sua prática, o que e conseqüentemente para que serve uma língua. Existe também a avaliação de sua clientela: faixa etária, realidade socioeconômica e cultural,  bagagem línguistica e enciclopédica. Existe ainda, e mais clássica, a avaliação do desempenho do aluno. Antes de prosseguirmos à discussão, cabe ressaltar um possível ponto fraco do texto de trabalho, ou pelo menos algo que tem de ser enormemente levado em consideração: o contexto do ensino de segunda língua. Não se pode falar de um ensino de língua estrangeira, se não de ensinoS de línguaS estrangeiraS, e suas condições são completamente diferentes. Por exemplo: entre o professor de português do Brasil como segunda língua, e o professor de inglês por exemplo, e entre estes (professores de inglês) também há enormes diferenças. Um coisa é dar aula de português como segunda língua: poucos, ou às vezes um aluno, geralmente adultos, conhecedores de pelo menos uma lingua estrangeira, (no Brasil) ambiente de imersão. Outra é dar aula de inglês: muito alunos, diversas idades, na maioria das vezes não conhecedores de língua estrangeira, ambiente de não-imersão. E entre os professores de inglês temos os dos cursos, e os da escola pública, não citarei as diferenças, por já conhecidas. Todas essas especificidades tem de entrar em conta na avaliação do professor. Esse é um tipo de avaliação que o professor deve fazer, a chamaremos holística. Mas o professor deve também, como já dito, analisar o desempenho do aluno enquanto aprendiz de um LE. Scaramucci, de maneira muito lúcida, nos leva a pensar como esse tipo de avaliação é importante, posto que é na direção dela que a prática pedagógica se dá. Observa-se que no ensino, de qualquer disciplina, a avaliação tem um papel central, uma vez que foi transformada no momento máximo da educação, ao ter se transformado na principal meta da educação, converteu-se também como o maior agente centrípeto dos conteúdos educação. Vemos a esse propósito, que o conteúdo exigido pelas universidades públicas, provas do governo como ENEM tem efetivamente ditado o que é ensinado nas escolas. As provas do CELP/BRAS tem tido também influência no modo como o português tem sido ensinado. Para concluir, quando, de fato e plenamente, os avanços da linguística irão chegar e modificar o ensino de línguas estrangeiras em nosso território?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Andar de bicileta, ler e escrever.


       Aprendemos a andar de bicicleta, andando de bicicleta.
      Aprendemos a dirigir um carro, dirigindo um carro.
      Quando aprendemos a andar de bicicleta, ou a dirigir um carro, começamos inseguros, cometemos erros, caimos da bicleta, deixamos morrer o carro. Mas apenas pedalando e dirigindo, de fato, podemos aprender essas habilidades. Quando estamos aprendendo a dirigir, e vamos de carona, temos o costume de observar o motorista, tentando ver como ele se comporta nas situações de transito, se o respeitamos como motorista, fica sendo o nosso modelo. E continuamos aprendendo a andar de bicicleta, ou a dirigir um carro. Com o passar do tempo, o que era complicado, estressante no ínicio, vai se tornando mais fácil, até que um belo dia temos total controle sobre nosso veículo, pedalamos  rapidamente ou vagarosamente, passamos por lugares que jamais teríamos capacidade de passar antes, a mesma coisa com o carro, estacionamos, damos ré, corremos, ou vamos devagar, trocamos até os pneus. O mesmo caso acontece com o domínio da escrita. Aprendemos a escrever, escrevendo. Ninguém aprende a andar de bicicleta, ou dirigir carro assitindo aulas sobre as partes do veículo. O véiculo da escrita é metaforicamente semelhante. Precisamos ter contato com a escrita, utilizá-la, só então é possível utilizá-la com total domínio. Primeiramente nosso aluno deve ter a capacidade de registrar seu pensamento por escrito, o que só se faz tentando, nesse meio tempo, nosso aluno pode cair da bicicleta, mas cair da bicicleta não tem tanto problema assim, o que não podemos deixar é que ele bata o carro mais a frente. Dando nome aos bois, é melhor que o nosso aluno utilize a escrita e erre, do que não erre e nao utilize a escrita, pois de tanto usá-la acabara adquirindo domínio. Entra aqui o papel do professor, o de servir como uma espécie de porto seguro com o qual o aluno pode contar quando em dificuldades no uso da escrita, não só isso, o professor deve mostrar o caminho, explicar como desviar das pedras, mas a travessia é do aluno. O ensino da gramática deve estar subordinada ao aprendizado da expressão escrita. Produção escrita, análise da produção, e reescrita, nessa ordem. Ninguém acentua corretamente uma palvra porque ela é uma proparoxitona termina na letra que for, acentuamos as palavras porque lembramos que aquela palavra tem acento, lembramos que aquela palavra tem acento escrevendo-a e sendo corrigidos, e lendo-a em textos. Tudo isso que eu disse não é nenhuma novidade. Qualquer sujeito que passou por um processo efetivo de letramento entende o que digo. Porque então as escolas não perceberam isso? Que cegueira é essa que assola nossas praticas em sala de aula? O professor sabe que eu tenho razão, o diretor do colégio também, o ministro da educação muito provavelmente também sabe disso. Os alunos têm total consciência da inutilidade do atual modelo conteudista ainda em vigor . Como continua a escola a exigir de seus alunos boas redações se estes dificilmente têm contanto com as instâncias mais formais da língua escrita? Melhor dizendo, a escola os coloca em contato com instâncias formais da língua escrita, mas o fazem com um total despreparo, abruptamente, desejam que da noite para o dia o nosso aluno a domine e ficamos atônitos quando vemos suas quedas, que são na verdade deslizes naturais de quem não tem familiaridade com aquele véiculo, ainda.
      A leitura é outro ponto importante, no qual novamente a escola tem desempenhado um papel cruel. Aprecio a metáfora do exercicio físico, pois mesmo sendo a leitura um exercício mental, assim como aquele precisa-se de prática efetiva, para efetivos resultados. Ninguém corre quilômetros, ou faz levantamentos repetitivos de cinquenta quilos de uma vez. Corremos curtos trechos e vamos aumentando, levantamos pequenos pesos e vamos aumentando. Assim é com a leitura, nenhum de nós conseguiria entender leituras mais extensas ou complexas se não tivermos começado entendendo leituras mais curtas e mais simples. Mas o que acontece na escola é justamente o contrário. Colocamos nossos alunos para levantarem muito mais do que podem carregar de príncipio, damos 50kg, quando deveríamos ter dado 5kg. O quanto mais não ganharíamos se lêssemos gibis com nossos alunos. Os gibis não são literatura barata e descartável, foram feitos por seres-humanos, carregam seus traçõs, pensamentos, valores, ideologias, a descoberta desses pensamentos, valores, ideologias é  a leitura em sentido amplo, sonho de qualquer professor de português. Do gibi iremos para as crônicas, da crônica para livros que eles gostem, dos livros que eles gostem, para os livros que eles precisam, pelos motivos que forem, ler. Com isso me despeço, abraço, Kainã.