quarta-feira, 14 de abril de 2010

             Escrever no sentido letrado do termo, para mim, é difícil, é estressante, é como se fosse um parto, porque não é simples associar idéias abstratas (dentro da abstração que já são as próprias ideias) a um texto material. Escrever é difícil, mas sinto que por ela tenho oportunidade de explorar níveis do pensamento que de outra maneira não seria possível. A linguagem é realmente espantosa, por ela e nela, num nível cognitivo, criamos conceitos, esquemas mentais, portanto abstratos, por meio dessa mesma linguagem, transformamos esse abstrato (a idéia) em concreto (a fala) e desse concreto, podemos torna-la mais concreta ainda, (A escrita). Não se pense que se trata de uma supremacia do sistema escrito ao sistema falado, mesmo porque ao adquirirmos linguagem, o fazemos na e pela fala, a realidade linguistica que conhecemos primeiramente é a realidade oral, é ela que faz brotar, ou cria a linguagem, ou os dois, a depender da teoria adotada. Isso me faz pensar na importância da língua oral na aquisição da lingua escrita. Me faz pensar que nunca serei tão bom numa lingua estrangeira, doravante: LE, ao escrevê-la, quanto em minha línga materna, doravante: LM, também no sistema escrito. Isso me faz pensar, também, na importância que meu letramento em LM tem no meu letramento em LE. De que maneira o letramento na LM interfere no letramento em LE? De que maneira a língua escrita mexe no cérebro, de tal modo que, após letrados, nos é impossível direcionar os olhos a uma palavra, e não lê-la?.
 Em resumo, a língua escrita nos permite, pela sua própria natureza, um determinado tipo de ordenamento das idéias, podemos ler aquela sentença inúmeras vezes, podemos pensá-la e re-pensá-la, até a entendermos, podemos descrever um raciocínio, e não termos de raciociná-lo a todo instante, podemos pensar e não ter de decorar todos os pensamentos importantes, podemos tomar notas, e depois consultá-las. Mas tudo isso é uma realização da linguagem, e acredito que é impossível escrever sem ter linguagem, mas extremamente comum ter se linguagem, e não escrita. E considerando a fala (termo mais correto que “fala”   poderia ser manifestação face a face da linguagem humana, uma vez que esta pode se manifestar também pela expressão gestuo-corporal,) elemento deflagrador ou construtor da  linguagem, não posso, jamais, aceitar a idéia de uma superioridade cognitiva ou linguistica da escrita, chegaria a crer no contrário, mas fico com a posição daquele que é mais sábio do que eu, e transcrevo aqui as palavras de Marcuschi:
“Tanto a oralidade como a escrita são fundamentais, são duas maneiras de as pessoas organizarem seus discursos, praticarem suas interações no dia-a-dia, sem que uma seja mais importante do que a outra. Cada uma tem seu lugar. São práticas discursivas que não concorrem, não competem”
                                          Marcuschi, DVD: Entre a Imagem e a Palavra – Coleção Antônio Marcuschi.
Só me resta sintetizar meu raciocínio tese: a escrita é maravilhosa, porém só me é dado adquirí-la, através da linguagem, e ao que me parece só é possível adquirí-la (a linguagem) através da oralidade (realização face-a-face da linguagem humana, que pode se manifestar através das línguas de sinais, por exemplo). É então a oralidade elemento precedente fundamental da língua escrita, será então a LM, aquela a que melhor apoio dará à escrita, e o aprendizado da escrita em LM, poderá, talvez, ser "background" interessante na aquisição da escrita em LE. Gostaria de descobrir isso.
Com isso me despeço, Kainã Aguiar Ferreira