segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Estas linhas são minhas reflexões (provisórias, falhas, porém sinceras) acerca do conceito de etnicidade proposto pelo autor citado no texto, e do qual não me recordo o nome . Diz ela que os pontos definidores de etinicidade são: a língua, modo de vestir, e religião. Critérios estes muito práticos e pragmáticos, realmente quando pensamos nas diferentes culturas ao redor do mundo nos vêm exatamente esses pontos, aminha questão o etanto é: Em um mundo em procoesso de globalização, em certos aspectos homgoneizantes, até que ponto, roupas poderão servir como critério distintivo infalível, falando-se em etnias? Nos vestimos tão diferentemente assim dos americanos, franceses, portugueses, gregos? Essa resposta não posso dá-la concerteza, não tenho conhecimento de causa, quem souber por favor me responda, mas acredito que não. Nossas religiões poderão servir também como critério? Não serão todos países citados seguidores (com boa participação) dá fé cristã, católica ou protestante? E se não o forem, no Brasil temos uma diversidade religiosa incrível, e ainda sim somos todos brasileiros. Por último, e muito mais problemático a língua, esse é com certeza, um ponto central nas discussões sobre etnia. Apenas para continuarmos o raciocinio seguido até agora, imaginemos que sob certo conceito de língua, Portugal e Brasil falam a mesma língua. Dessa maneira teriamos as seguintes coisas em comum com os portugueses:

1- Vestimenta (ao menos em certas situações sociais comuns às duas culturas, como escritório por exemplo)

2- Religião (Portugal e Brasil contam com boa participação da religião católica em seus territórios)

3- Língua, a língua portuguesa (Lembrando-se que língua é um conceito muito amplo, não tornando incorreto dizer também que portugues europeu e português brasileiros são línguas diferentes, depende do enfoque ora utilizado)

Seríamos então, nós e os portugueses a mesma etnia? Esta é uma pergunta retórica e a respostá é obviamente não. Claro está também que eu procedi a uma utilização bastante direcionada, conveniente para meus objetivos, dos conceitos apresentados. O que me incomoda é: está a minha leitura muito paranóica, encontrando “pelo em ovo de galinha” como muito bem resume o ditado popular, ou de fato pode-se, levando às últimas consequencias o conceito de etinicidade proposto pelo autor tal, chegar-se ao raciocinio por mim apresentado? Em caso de resposta afirmativa a última pergunta, o conceito por ele apresentado é estreito, não se prestando a uma generalização ótima dos fenomenos, carecendo por isso de reforço.

Digo reforço, por considerar que os critérios pelo autor utilizados são na verdade muito bons, mas vivemos numa realidade em processo de mudança, de apagamento, talvez, de algumas dessas diferenças, e por acreditar que existem outros fatores que venham a completar o sentido de etinicidade. Aos quais passo a seguir.

Para mim, etinicidade é um sentimento de pertencimento à algum grupo social, amplo (ou não) porém definido. Dentro desse grupo o sujeito de certa forma se “vê” e se reconhece no outro, e cria assim um “nós” esse “nós” só pode existir, no entanto, em diferenciação a um “eles”. Esse reconhecimento no outro, e a criação de um nós, pressupõe uma história e uma vivencia em comum, as quais só se darão na interação social. Para seres interagirem ( hoje em dia, não necessáriamente) precisam dividir um espaço fisico ( o que figuraria como um critério geografico ao falarmos de etinicidade). Para interagirem, além de estarem no mesmo espaço fisico, terão de utilizar-se de uma língua, e é por isso que lingua é um conceito essencial na presente discussão. A língua cumpre a importante função de servir como instrumento de interação entre os seres, proporcionando a criação de laços afetivos, a vivencia de experiencias em comum, a transmissão de valores morais e tecnologias, isso tudo são coisas que a língua reflete, mas a língua apenas não diz a realidade, ela também a tece. Então a lingua não só passa adiante uma vivencia, história em comum, ela é, também, em sí mesma*, uma história e vivencia em comum. Por todo dito, considero que a língua desempenha papel crucial não só no sentimento de pertencimento a algum grupo social, como na propria constiruição desse grupo social. Relacionarei no proximo parágrafo, esta discução com a situação dos surdos brasileiros.

Pelo acima discutido pareceria dúbia a minha posição em relação à questão de se os surdos compõem ou não uma etnia, ou uma cultura a parte, pois se para mim etnia é um sentimento de pertencimento, e eu acredito que os surdos se sintam brasileiros, e se lingua tem um papel central nesse sentimento, e os surdos têm uma outra língua, teriamos um conflito no conceito. A minha tese no entanto é: os surdos vivem numa situação cultural impar. Segundo Gladis Dalcin, em seu “Um estranho no ninho: um estudo psicanálitico sobre a constiuiçã da subjetividade do sujeito surdo” constante em “Estudos Surdos Volume I” organizado por Ronice Muler Quadros

mesmo com o dito no paragrafo anterior, mesmo com esse sentimento manifesot de estrangeiridade pelo surdo, acredito que se houvesse um congresso mundial de surdos, e fossem para lá um grupo de surdos brasileiros, estes se identificariam a sí mesmos como um grupo, um “nós” em diferenciação/oposição a outros grupos, a “eles” e essa oposição entre “nós” e “eles” não se daria com base em ser surdo, ou não. Se lhes fossem perguntado: “Vocês são o que?”. Acredito que responderiam: “Somos brasileiros”. E é exatamente essa a situação impar, contraditória e complexa dessa minoria linguistica, ao mesmo tempo em que eles se veem, e não podemos tirar sua razão de assim se verem, como possuidores de uma cultura diferente, como estrangeiros dentro da própria familia, eles são ao brasileiros. Estão por ai, nos onibus, metros, shoppings, escolas, estamos juntos torcendo pela mesma seleção, gostamos de arroz e feijão e mcdonnalds e cachorro quente da esquina, moramos no mesmo país, somos formados por africanos, portugueses, indios, e uns italianos aqui, uns japoneses acolá, uns alemães lá em baixo. Um bebê surdo ganhará roupas azuis, e uma bola, uma bebe surda roupas rosas e uma boneca. Como se vê tal questão é de fato complexa, e acaba criando um ciclo vicioso. Como se cria e transmite cultura se não for pela língua? Se surdo e ouvinte não dividem um código, como podem então partilhar uma cultura? Se a barreira da diferença linguistica é obstaculo para esse compartilhamento, não é, necessáriamente, um obstáculo intransponivel, pode haver troca graças a capacidade da linguagem.

Parece-me impossível prosseguir o debate do presente tema, resumido em “Os surdos têm um cultura própria? Existe uma cultura surda?” sem discutirmos “ o que é cultura?”. Sem a pretensão de reduzir cultura ao exposto por mim e sabendo das minhas limitações frente a assunto tão complexo, acredito que a cultura pode ser entendida como o modo pelo qual nos relacionamos com a realidade e nessa relação a (re)criamos. Isso envolve a realidade social e a realidade fisíca, havendo uma interação intensa entre esses elementos. O modo como a realidade fisíca nos afeta repercute no modo como nos relacionamos com nossos pares, e o modo como nos relacionamos com nossos pares repercute no modo como a realidade física nos afeta, e consequentemente como lidaremos com ela, a realidade fisica, não havendo espaço aqui para determinismos no sentido de que caracteristica “A” da realidade fisica resultará em característica “A” da realidade social. O que quero dizer com esta discussão é que vivemos em um mundo bio-social, nem só biológico, nem só social, e que o biológico (sentido amplo) interfere no social, e que o social interfere no modo como nos relacionamos com o biológico, com o físico, numa relação dialógica. Tendo essa dimensão do conceito cultura como pano de fundo não pode- se dizer que os surdos mantêm uma relação com a relidade fisica diversa da nossa, ouvintes? E que graças a essa realção diferente com a realidade fisica, eles tenham uma percepção da realidade social diferente da nossa? Por conta dessa especificidade física, não podem os surdos estruturar e (re)criar a realidade de um modo diverso do nosso, justificando-se então a afirmativa de que os surdos possuem (também) uma cultura diferente da nossa, ouvinte? Com isso não quero dizer que os surdos compõem uma sociedade a parte, conforme já discutido no paragráfo X. Portanto ao falarmos de cultura surda, não devemos colocá-los todos sob o mesmo rótulo, estaremos falando da cultura surdo-brasileira, surdo-francesa, surdo-norteamericana, ou, cultura dos surdos brasileiros, dos surdos franceses, dos surdos norteamericanos etc....

Partindo da hipótese de que existiria uma cultura surda, a próxima pergunta seria: O que é então a cultura surda de fato? Para responder a esta pergunta comecei a ler o livro “As imagens do outro sobre a cultura surda” da autora surda (e brasileira, diga-se de passagem) Karin Strobel, lançado pela editora UFSC, em 2008, procurando indícios concretos do que seria essa “cultura surda”.

Resumindo esta última discussão: existe uma etnia surda? Não. Os surdos se encontram numa situação cultural impar? Sim. Existe concomitantemente a uma cultura brasileira, uma cultura surda, estando então os surdos inseridos em duas culturas diferentes? Talvez.

Agradeço por seu tempo, leitor(a), e espero ter atingido meus objetivos nesse texto, os quais:

1) Discutir o conceito de etinicidade, expondo o que me incomodava.

2) Falar sobre o que eu entendo por etinicidade e

3) Discutir a situação do surdo nesse contexto.

Com isso me despeço, abraço, Kainã

Um comentário:

  1. Putz.
    Aqui jaz a desconstrução de um conceito elaborado por um escritor europeu, que dificilmente teria a visão de ampla, de um observador brasileiro, que vive em convívio com uma multidiversidade enorme, capaz de fazer com que um simples post no blog traga 3 assuntos a priori não relacionados: etnicidade, surdez e cultura.

    Parabens,
    continue postando sempre.
    abraços amigo

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