quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Andar de bicileta, ler e escrever.


       Aprendemos a andar de bicicleta, andando de bicicleta.
      Aprendemos a dirigir um carro, dirigindo um carro.
      Quando aprendemos a andar de bicicleta, ou a dirigir um carro, começamos inseguros, cometemos erros, caimos da bicleta, deixamos morrer o carro. Mas apenas pedalando e dirigindo, de fato, podemos aprender essas habilidades. Quando estamos aprendendo a dirigir, e vamos de carona, temos o costume de observar o motorista, tentando ver como ele se comporta nas situações de transito, se o respeitamos como motorista, fica sendo o nosso modelo. E continuamos aprendendo a andar de bicicleta, ou a dirigir um carro. Com o passar do tempo, o que era complicado, estressante no ínicio, vai se tornando mais fácil, até que um belo dia temos total controle sobre nosso veículo, pedalamos  rapidamente ou vagarosamente, passamos por lugares que jamais teríamos capacidade de passar antes, a mesma coisa com o carro, estacionamos, damos ré, corremos, ou vamos devagar, trocamos até os pneus. O mesmo caso acontece com o domínio da escrita. Aprendemos a escrever, escrevendo. Ninguém aprende a andar de bicicleta, ou dirigir carro assitindo aulas sobre as partes do veículo. O véiculo da escrita é metaforicamente semelhante. Precisamos ter contato com a escrita, utilizá-la, só então é possível utilizá-la com total domínio. Primeiramente nosso aluno deve ter a capacidade de registrar seu pensamento por escrito, o que só se faz tentando, nesse meio tempo, nosso aluno pode cair da bicicleta, mas cair da bicicleta não tem tanto problema assim, o que não podemos deixar é que ele bata o carro mais a frente. Dando nome aos bois, é melhor que o nosso aluno utilize a escrita e erre, do que não erre e nao utilize a escrita, pois de tanto usá-la acabara adquirindo domínio. Entra aqui o papel do professor, o de servir como uma espécie de porto seguro com o qual o aluno pode contar quando em dificuldades no uso da escrita, não só isso, o professor deve mostrar o caminho, explicar como desviar das pedras, mas a travessia é do aluno. O ensino da gramática deve estar subordinada ao aprendizado da expressão escrita. Produção escrita, análise da produção, e reescrita, nessa ordem. Ninguém acentua corretamente uma palvra porque ela é uma proparoxitona termina na letra que for, acentuamos as palavras porque lembramos que aquela palavra tem acento, lembramos que aquela palavra tem acento escrevendo-a e sendo corrigidos, e lendo-a em textos. Tudo isso que eu disse não é nenhuma novidade. Qualquer sujeito que passou por um processo efetivo de letramento entende o que digo. Porque então as escolas não perceberam isso? Que cegueira é essa que assola nossas praticas em sala de aula? O professor sabe que eu tenho razão, o diretor do colégio também, o ministro da educação muito provavelmente também sabe disso. Os alunos têm total consciência da inutilidade do atual modelo conteudista ainda em vigor . Como continua a escola a exigir de seus alunos boas redações se estes dificilmente têm contanto com as instâncias mais formais da língua escrita? Melhor dizendo, a escola os coloca em contato com instâncias formais da língua escrita, mas o fazem com um total despreparo, abruptamente, desejam que da noite para o dia o nosso aluno a domine e ficamos atônitos quando vemos suas quedas, que são na verdade deslizes naturais de quem não tem familiaridade com aquele véiculo, ainda.
      A leitura é outro ponto importante, no qual novamente a escola tem desempenhado um papel cruel. Aprecio a metáfora do exercicio físico, pois mesmo sendo a leitura um exercício mental, assim como aquele precisa-se de prática efetiva, para efetivos resultados. Ninguém corre quilômetros, ou faz levantamentos repetitivos de cinquenta quilos de uma vez. Corremos curtos trechos e vamos aumentando, levantamos pequenos pesos e vamos aumentando. Assim é com a leitura, nenhum de nós conseguiria entender leituras mais extensas ou complexas se não tivermos começado entendendo leituras mais curtas e mais simples. Mas o que acontece na escola é justamente o contrário. Colocamos nossos alunos para levantarem muito mais do que podem carregar de príncipio, damos 50kg, quando deveríamos ter dado 5kg. O quanto mais não ganharíamos se lêssemos gibis com nossos alunos. Os gibis não são literatura barata e descartável, foram feitos por seres-humanos, carregam seus traçõs, pensamentos, valores, ideologias, a descoberta desses pensamentos, valores, ideologias é  a leitura em sentido amplo, sonho de qualquer professor de português. Do gibi iremos para as crônicas, da crônica para livros que eles gostem, dos livros que eles gostem, para os livros que eles precisam, pelos motivos que forem, ler. Com isso me despeço, abraço, Kainã.

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